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Pigmentos na Iconografia
 

       Dentro da iconografia, há Escolas que defendem o uso tão somente de pigmentos naturais. Isso porque os pigmentos naturais geram cores com misturas complexas da luz com vários comprimentos de onda e intensidades. O resultado é uma aparência suave, embora intensamente cromática que exerce uma influência benéfica sobre a psique humana, sendo tanto energética quanto calmante e restauradora.

       Por outro lado, os pigmentos sintéticos não produzem sobre os seres humanos o mesmo efeito que os materiais naturais, pois os pigmentos feitos em laboratórios químicos são formulados para serem homogêneos e puros. Assim, na cor resultante predomina a luz numa pequena faixa de comprimento de onda. A aparência é chamativa, brilhante, sem contrastes e pode até mesmo ser tóxica para a visão humana.

       Na pintura secular esse efeito é menos percebido, pois após admirar uma obra de arte pintada com cores sintéticas a pessoa simplesmente perde o interesse e segue em frente. Mas num ícone, sobre o qual uma pessoa em oração fixa intensamente seu olhar, os pigmentos sintéticos exercem uma influência nociva. Os humanos têm sistemas de defesa naturais que filtram estímulos externos estranhos e nocivos. Portanto, nas profundezas da psique humana duas forças emergem quando a pessoa está olhando fixamente o ícone que emite cores artificiais. Ela é atraída para ele por ser a ligação entre a alma e o mundo espiritual, e simultaneamente é repelida pelo ícone por ele ser um mensageiro de estímulos externos estranhos à alma. O foco da oração enfraquece, e mais esforços são necessários para manter a concentração.

       Os pigmentos naturais preservam a estrutura cristalina de seus componentes básicos. Assim sendo, eles criam uma sensação de volume e vida internos. Os pigmentos produzidos pelo homem (normalmente por precipitação ou destilação de materiais refinados) não têm formas complexas. Para a visão humana, as cores naturais acalmam e restauram o espírito, enquanto que os pigmentos sintéticos causam fadiga em nossa natureza física.

       O modo como cada pigmento ou combinações de pigmentos age sobre os humanos é algo que não pode ser entendido racionalmente ou determinado através de experimentos. Os antigos mestres iconógrafos perceberam diretamente esses efeitos por meio da iluminação espiritual. Assim sendo, eles deram uma atenção especial aos materiais que usavam para os pigmentos. Essa iluminação vinha de suas constantes orações antes, durante e após a pintura. Suas intuições se tornaram a tradição que é seguida pelos pintores de ícones de gerações posteriores.

       A tradição e o cânone de pintura do ícone não limitam a criatividade individual do artista, mas antes lhe permitem construir sobre uma experiência de enorme importância, a qual está toda diretamente relacionada com a própria oração. Portanto cada passo no processo da pintura de um ícone é importante. A substância dos pigmentos, os métodos de suas preparações e o material sobre o qual o ícone é escrito.

       Não importa o quão medíocre ou talentoso um artista possa ser, se ele ignorar a tradição da pintura de ícones – a catedral de experiências para a nossa visão do mundo espiritual – e substituí-la por sua própria imaginação, ele será como um homem cego tentando pintar o mundo natural.
 

Classificação dos Pigmentos 

       Um pigmento é uma partícula colorida que pode ser aderida em algum lugar por intermédio de um veículo fixador. Usualmente costuma-se distinguir entre pigmentos e corantes. Um pigmento é uma substância colorida, finamente dividida, que passa um efeito de cor a outro material, quer quando bem misturado a ele, quer quando aplicado sobre sua superfície em uma camada fina.

       Quando um pigmento é misturado ou moído num veículo líquido para formar uma tinta, ele não se dissolve, mas permanece suspenso ou disperso no líquido. Os pigmentos, no sentido estrito da palavra, são simplesmente colocados na superfície através do veículo adesivo no qual são aplicados.

Os corantes são classificados como substâncias coloridas solúveis, que penetram ou se desmancham nos materiais nos quais são aplicadas, e alteram sua cor combinando-se com o material por meio de reações físicas ou até mesmo químicas.

       Nos métodos modernos de pintura, as diferenças sutis das características dos pigmentos tendem a desaparecer. Na pintura a óleo, não faz muita diferença se o artista usa uma terra vermelha em seu registro natural ou se força um vermelho brilhante a chegar ao tom que se ajusta ao da terra vermelha. Por essa razão, os pigmentos sintéticos passaram a ser preferidos em detrimento dos naturais.

       Nos métodos de pintura medievais como a têmpera a ovo, entretanto, os pigmentos mostram plenamente suas características naturais, como transparência, densidade e poder de coloração, e por isso é importante conhecê-los bem.

       Os pigmentos podem ser classificados de acordo com sua origem, seja inorgânica ou orgânica. Os inorgânicos ou minerais são as terras naturais (Ocras, Sombras, Sienas, etc.); as terras naturais calcinadas (Sombra Queimada, Siena Queimada, etc.); as cores sintéticas inorgânicas (vermelho de cádmio, óxido de zinco, azul de cobalto, etc.). A maior parte dos pigmentos inorgânicos apresenta cores mais suaves e mais opacas que dos orgânicos.

       Os orgânicos são os de origem vegetal (açafrão, índigo, etc.); os de origem animal (cochonilha, kermes, etc.) e os pigmentos orgânicos sintéticos (laca de Alizarina, azul e verde Ftalocianina). São pigmentos muito brilhantes e apresentam cores fortes e excepcionalmente transparentes.

       Na Idade Média costumava-se distinguir entre cores naturais e artificiais. As cores naturais mais óbvias são, naturalmente, as terras e os minerais. E as artificiais são aquelas produzidas em laboratórios químicos. Entretanto, não é sempre tão fácil fazer essa distinção e mesmo na Idade Média a classificação entre os dois grupos não era sempre exata. Cennino fala de cores que são naturais “mas precisam ser auxiliadas artificialmente.” De fato, embora a natureza tenha sido generosa com materiais coloridos que são adequados para serem usados como pigmentos, poucos estão prontos para serem usados sem algum tratamento especial.

       Estritamente, o termo natural só deveria ser aplicado ao que é criado pela natureza, o resultado de processos biológicos, geológicos ou mineralógicos naturais, sem qualquer intervenção humana. Se pegarmos um material natural, alterarmos suas propriedades tais como sua composição e estrutura química, derivaremos um novo material que não poderia ser chamado de “natural”. Assim, por exemplo, se pegamos os elementos naturais Enxofre e Cádmio, ou Cobalto e Alumínio, e os combinamos através de processos químicos, obteremos duas novas substâncias, o amarelo de cádmio e o azul de cobalto, que serão produtos sintéticos, artificiais.

       Durante os últimos séculos desenvolveu-se três categorias para descrever a cor na luz branca: matiz, saturação e tonalidade ou tom. Matiz é o atributo da cor, determinado por um comprimento de onda que permite discriminar o azul do vermelho, este do amarelo, e assim por diante. A saturação refere-se à pureza das cores, e a tonalidade à quantidade de preto presente na cor. Esses atributos descrevem a aparência visual da cor e em conjunto formam o croma do pigmento.

       O croma de um pigmento depende do tamanho, da forma e das características de absorção da luz de seus constituintes químicos. O tamanho da partícula de um pigmento varia consideravelmente, de menos de 10 μm (1 μm = 1 micrômetro = 1 milionésimo de metro), comparável a uma farinha, a maior que 100 μm, que corresponde a uma areia fina.

       Para fazer uma comparação, a maior parte dos pigmentos sintéticos, tais como azul cobalto ou ultramar, têm partículas menores que 1 μm, enquanto que as maiores partículas de Azurite variam entre 50 e 120 μm.

       Aquecendo clorito de cobalto com clorito de alumínio, produzimos azul de cobalto. Essa reação química produz partículas de uma pureza e uniformidade não usuais. Por outro lado, o pigmento natural Azurite é preparado esmagando mostras do mineral obtidas de depósitos de Cobre. Ao esmagar a Azurite, agregados de cristais de carbonato de cobre são despedaçados em pequenos grãos, resultando em partículas individuais de tamanhos e formas irregulares.

       No caso da Azurite, as partículas não apenas diferem em tamanho e forma, mas também em composição, pois o mineral pode conter inclusões, que são pequenas quantidades de outros minerais, tais como Malaquita. Como conseqüência, a Azurite vai refletir e transmitir a luz em outras áreas do espectro tais como no vermelho, verde e amarelo. Comparado ao azul de cobalto, que apresenta uma pureza raramente encontrada na natureza, a Azurite aparecerá cromaticamente mais intensa, pois refletirá numa banda mais larga do espectro do que seu análogo sintético.

       Embora os pigmentos modernos tenham partículas de diferentes tamanhos e formas, eles são de formas mais simples, tamanhos menores, e muito mais homogêneos que os pigmentos naturais. Como produtos da indústria química, os pigmentos sintéticos são utilizados principalmente para as indústrias têxteis e de tintas, e são formulados para terem a maior homogeneidade possível em tamanho, composição e forma, pois essas características implicarão numa maior estabilidade e fixação do produto. Os pigmentos sintéticos em pó disponíveis para os artistas são praticamente os mesmos que os utilizados pela indústria. Como Anita Albus escreveu em “Art of Arts”, para os artistas: “O resultado não é a perfeição, mas a esterilidade”.

       Os pintores são dos poucos grupos artísticos que sucumbem diante das pressões econômicas da indústria e usam pigmentos prontos feitos para o uso comercial. Até mesmo em artes aplicadas como a gastronomia, os chefs não usam caldos ou sucos comerciais, mas os produzem eles próprios, embora esses produtos estejam disponíveis no mercado há muitos anos. Isso porque sabem a grande diferença no resultado quando utilizam o produto comercial ou aquele produzido por eles mesmos, de maneira artesanal.
 

Índice de Refração 

       A opacidade de uma pintura é grandemente influenciada pelos índices relativos de refração do pigmento e do solvente, assim como pelo tamanho das partículas e pela distribuição do pigmento, isto é, a forma e o grau de agregação das partículas, a proporção de pigmento no veículo e a espessura do filme aplicado.

       No caso da pintura, a luz que entra na superfície da pintura passa através das partículas de pigmentos que têm diferentes tamanhos e estão orientadas ao acaso. Essas partículas não absorvem muita luz, mas têm um índice de refração maior do que o do meio que as rodeia. Assim, a luz é refratada e refletida na superfície de cada partícula, e uma parte será refletida para fora da pintura.

       No caso de pigmentos coloridos, a opacidade da camada de pintura dependerá da tanto absorção da luz quanto de sua capacidade de espalhá-la, que será dependente do índice de refração e da distribuição de tamanhos das partículas.

       Assim, quando usamos pigmentos naturais, o efeito será de um brilho maior na pintura, pois eles têm uma diversidade de tamanhos das partículas muito maior do que seus análogos artificiais. Outro fator que também afetará o brilho da pintura será a base sobre a qual ela será executada.
 

Referências

 

Grigor´ev, Alexander V. “On the Nature of Pigments” www.members.iconofile.com

Meyer, Ralph. “Manual do Artista”

O´Hanlon, George. “Do Natural Pigments Offer More to the Modern Painter?”www.members.iconofile.com

O´Hanlon, George “Why Some Paints are Transparent and Others Opaque”www.iconofile.com

Thompson Jr., Daniel V. “The Practice of Tempera Painting – Materials and Methods”. Dover Publications, Inc. New York, 1962.

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